E você, vai mandar seu filho para escola neste dia 20?

Vou desviar um pouquinho do nosso foco aqui neste espaço, mas ainda tratando de comportamentos, para refletir sobre este 20 de abril. Você vai mandar a Duda para escola no dia 20? Essa foi a segunda pergunta que mais ouvi nos últimos dez dias, perdendo apenas para: você o viu o vídeo sobre ameaças de ataque nas escolas no dia em que o massacre de Columbine, nos Estados Unidos, completará 24 anos?   

Confesso que nos meus 13 anos de exercício da maternidade nunca senti tanto incômodo e inquietude por esses questionamentos quanto agora. Menos pelo terrorismo que ganha escala nas redes sociais e mais pela dúvida se a nossa geração de pais será capaz de enxergar, por trás da nuvem de ameaças, uma oportunidade de resgatar o protagonismo como top influencers na formação dos nossos filhos.  

A grande maioria dos pais dos adolescentes de hoje nasceu na era analógica, no mundo 1D, quando a inteligência não tinha nada de artificial. Nossos momentos com eletrônicos disputavam espaço com o noticiário e a novela. O tempo era limitado e precisávamos encerrar a disputa no River Raid, na Batalha Naval ou Pac Man, desmontar o Atari e liberar a TV para o resto da família e para a reunião de todos à mesa do jantar.  

Atualmente, a versão moderna desses joguinhos está 24 horas à disposição dos nossos filhos, a poucos cliques de alcance, no celular, na TV, no PC, na frente, verso e metaverso… E, junto com eles, influencers dos quatro cantos do mundo, informação de todo tipo, conteúdo, jogos nas mais variadas redes sociais, plataformas e formatos.   

Não estou aqui demonizando a tecnologia. Apenas chamando atenção para a disputa ingrata e a facilidade com que podemos ceder à tentação das minitelas de rolagem infinita. Atrações que consomem nosso tempo, momentos de lazer, de conversa, de troca com nossos jovens, seres humanos em fase de lapidação. Momentos em que milhares de pais não conseguem, cada um, influenciar um único filho, mas que um único influencer do momento arrebanha milhões de jovens seguidores.   

E qual o problema disso? Pode até ser, aparentemente, nenhum na grande maioria dos casos. Mas pode ser apenas um com uma capacidade de estrago desproporcional. Por que estou falando isso? É fato: jovens predispostos a ataques brutais em escolas, ou onde quer que seja, dificilmente acordam como que numa hipnose terrorista. O mais comum é que eles acumulem motivos ao longo de suas curtas existências para agir dessa forma. E essa construção, muitas vezes, passa despercebida pela família, pelos amigos e parentes próximos.  

Até pouco tempo atrás, era fácil rotular esses comportamentos como fruto de lares desestruturados, com históricos de violências ou outros traumas. No entanto, os traumas podem surgir nos ambientes mais tranquilos e pacatos. Ali, sentado num cantinho do corredor de uma escola, sem ninguém por perto, nosso jovem pode estar sendo fortemente influenciado pelas conexões globais frutos da transformação tecnológica que reproduzem na telinhas: ideologias, comportamentos, questionamentos sem que haja filtros ou ponderações. São infovias digitais onde o fake pode virar fato, onde a montagem digital circula como imagem verdadeira, a notícia pode ser alterada, onde todos falam mais e influenciam mais seu filho do que você.  

E como estamos lidando com isso? Questionamos os excessos por trás da lógica manipuladora dos algoritmos que tentam nos manter viciados e ditar nossos comportamentos, criando legiões de seguidores zumbis. Claro que devemos estar atentos e pensar sobre essas questões. Isso é fundamental. Mas o quanto refletimos, em paralelo, sobre as conversas, os posicionamentos dos nossos filhos, os medos, as ansiedades?  

O quanto procuramos entender e ajudá-los a navegar nesse mar turbulento da pré-adolescência, da adolescência, do início da vida adulta? O quanto nos preocupamos com o que têm na mochila, com o que andam lendo, como falam, se comportam, julgam os amigos, o que carregam na mochila? O quanto sabemos sobre o que eles acessam nas redes sociais, os perfis que seguem e se espelham? Tememos que eles sofram bullying, mas também nos preocupamos se eles podem estar fazendo bullying?  

Importante lembrar que, como seres humanos, nossas histórias individuais são moldadas pelo meio social em que vivemos e que a nossa capacidade como pais influenciadores tem data de validade limitada. E nunca é demais repetir: nossos jovens são diamantes brutos em fase de lapidação. 

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